Não tinha recobrado a consciência totalmente a primeira vez para entender o que estava acontecendo, só tinha escutado vozes por perto. Queria entender o que era dito, mas tal coisa parecia impossível a medida que as forças desapareciam e era novamente tragado para a escuridão.
Na segunda vez que acordou estava sozinho. Abriu os olhos com dificuldade pela claridade excessiva e notou algo estranho quando não conseguiu abrir um deles, porém quando tentou levar a mão ao rosto para ver o que era percebeu que não tinha forças para se mover. Respirando fundo e olhando ao redor, viu que estava por algum motivo no que parecia ser um quarto de hospital, então o que o impedia de ver e lhe fazia pressão na cabeça provavelmente era um curativo. Mas o que não entendia era o motivo de estar ali. Cansado demais para pensar nisso, acabou dormindo novamente em poucos minutos.
Por fim, quando finalmente despertou pela terceira vez, foi com mais ânimo que notou que agora conseguia se mover melhor.
S-Senhor Walker! Uma voz exclamou com surpresa e Heike notou uma garota vestida de enfermeira se aproximar de modo apressado ao que tentava se sentar. Você deve ficar deitado! Disse aflita, sendo completamente ignorada pelo ariano.
Por que eu estou aqui? Perguntou quase sem voz, sentindo a garganta arranhar de um jeito dolorido. Impaciente e estressado pelo fato de não entender o que ocorria, agarrou-a pelo braço com força e lhe lançou um olhar autoritário. Me diga, o que aconteceu?! Repetiu a questão, exaltando-se e assustando a mulher. Parecendo apavorada com a violência nas palavras do maior, ela gaguejou que era para ele se deitar e saiu da sala numa velocidade incrível com a desculpa de que chamaria o regente de Virgem. Ótimo, foi o que pensou enquanto arrancava alguns dispositivos que estavam ligados em seus braços, deixando-os sobre os lençóis ao que tentava se levantar.
Não sentia-se mal, mas o esforço fez todo o corpo ranger dolorido e o regente se perguntou a quanto tempo estava ali para ficar dessa forma. Se forçando para fora da cama, alongou-se com cuidado e respirou pesado, seguindo até o pequeno banheiro anexado ao quarto. Ficou imóvel quando finalmente pôde se olhar no espelho.
Não sabia descrever o que estava sentindo no momento. Não sabia sequer se estava sentindo alguma coisa enquanto encarava o próprio reflexo que conhecia tão bem, mas que agora estava tão diferente que não se reconhecia. O próprio cabelo estava muito mais curto do que se lembrava, parecia frágil estando magro e pálido, um olho estava coberto por um curativo e o pior de tudo: por algum motivo seus chifres estavam bem maiores do que normalmente eram e um deles estava quebrado. Quebrado. O ar faltou nos pulmões quando tentou respirar e o olho visível se encheu de lágrimas. Como isso tinha acontecido? Porém, assim que tocou as pontas afiadas uma série de imagens começaram a passar pela cabeça ao mesmo tempo, de modo que se lembrou numa velocidade absurda tudo o que tinha acontecido. As visões, as vozes, toda a raiva, o ódio, o medo, toda aquela violência. Lembrou que fora a própria escolha desistir, lembrava-se do estranho homem lhe incitando fazer aquelas coisas, lembrava-se de Aya, lembrava-se de.. Nero.
Quando deu por si, fitou o espelho novamente e percebeu que lágrimas lhe escorriam de forma abundante do olho visível enquanto o lugar onde o outro deveria estar, já se lembrava de Harold arrancando-o, doía como se estivessem enfiando uma lâmina ali. Com um som abafado, arrancou o curativo do lugar e deparou-se com um buraco tão vazio quanto se sentia agora.
Sentia a raiva ferver no peito, a frustração, o desapontamento consigo mesmo, a vergonha acima de tudo. Queria gritar, queria quebrar tudo, queria fazer algo, mas não tinha força para expressar nada disso. Nero, o que tinha feito com Nero? O que INFERNOS TINHA FEITO COM NERO?! Não podia acreditar que tinha se entregado tão fácil, não podia acreditar que tinha atacado ele, não podia acreditar em tudo que tinha escolhido fazer. Era um traidor, por que não tinham lhe matado de uma vez? Por que?!
Respirando pesado pelo terror que o assolou quando pensou que o outro poderia estar morto por sua culpa, acabou perdendo a força nas pernas e caiu no chão em meio as lágrimas, abraçando as próprias pernas e escondendo o rosto ao que se encolhia contra a parede.
Última edição por Heike_Walker em Qua maio 21, 2014 7:51 pm, editado 1 vez(es)