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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

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    Mensagem por Heike_Walker Qua maio 21, 2014 6:27 pm

    Para alguém que sempre era tão enérgico e que quase nunca conseguia parar para dormir mais do que um par de horas, Heike nunca sentiu tanta dificuldade para acordar realmente.

    Não tinha recobrado a consciência totalmente a primeira vez para entender o que estava acontecendo, só tinha escutado vozes por perto. Queria entender o que era dito, mas tal coisa parecia impossível a medida que as forças desapareciam e era novamente tragado para a escuridão.

    Na segunda vez que acordou estava sozinho. Abriu os olhos com dificuldade pela claridade excessiva e notou algo estranho quando não conseguiu abrir um deles, porém quando tentou levar a mão ao rosto para ver o que era percebeu que não tinha forças para se mover. Respirando fundo e olhando ao redor, viu que estava por algum motivo no que parecia ser um quarto de hospital, então o que o impedia de ver e lhe fazia pressão na cabeça provavelmente era um curativo. Mas o que não entendia era o motivo de estar ali. Cansado demais para pensar nisso, acabou dormindo novamente em poucos minutos.

    Por fim, quando finalmente despertou pela terceira vez, foi com mais ânimo que notou que agora conseguia se mover melhor.

    S-Senhor Walker! Uma voz exclamou com surpresa e Heike notou uma garota vestida de enfermeira se aproximar de modo apressado ao que tentava se sentar. Você deve ficar deitado! Disse aflita, sendo completamente ignorada pelo ariano.

    Por que eu estou aqui? Perguntou quase sem voz, sentindo a garganta arranhar de um jeito dolorido. Impaciente e estressado pelo fato de não entender o que ocorria, agarrou-a pelo braço com força e lhe lançou um olhar autoritário. Me diga, o que aconteceu?! Repetiu a questão, exaltando-se e assustando a mulher. Parecendo apavorada com a violência nas palavras do maior, ela gaguejou que era para ele se deitar e saiu da sala numa velocidade incrível com a desculpa de que chamaria o regente de Virgem. Ótimo, foi o que pensou enquanto arrancava alguns dispositivos que estavam ligados em seus braços, deixando-os sobre os lençóis ao que tentava se levantar.

    Não sentia-se mal, mas o esforço fez todo o corpo ranger dolorido e o regente se perguntou a quanto tempo estava ali para ficar dessa forma. Se forçando para fora da cama, alongou-se com cuidado e respirou pesado, seguindo até o pequeno banheiro anexado ao quarto. Ficou imóvel quando finalmente pôde se olhar no espelho.

    Não sabia descrever o que estava sentindo no momento. Não sabia sequer se estava sentindo alguma coisa enquanto encarava o próprio reflexo que conhecia tão bem, mas que agora estava tão diferente que não se reconhecia. O próprio cabelo estava muito mais curto do que se lembrava, parecia frágil estando magro e pálido, um olho estava coberto por um curativo e o pior de tudo: por algum motivo seus chifres estavam bem maiores do que normalmente eram e um deles estava quebrado. Quebrado. O ar faltou nos pulmões quando tentou respirar e o olho visível se encheu de lágrimas. Como isso tinha acontecido? Porém, assim que tocou as pontas afiadas uma série de imagens começaram a passar pela cabeça ao mesmo tempo, de modo que se lembrou numa velocidade absurda tudo o que tinha acontecido. As visões, as vozes, toda a raiva, o ódio, o medo, toda aquela violência. Lembrou que fora a própria escolha desistir, lembrava-se do estranho homem lhe incitando fazer aquelas coisas, lembrava-se de Aya, lembrava-se de.. Nero.

    Quando deu por si, fitou o espelho novamente e percebeu que lágrimas lhe escorriam de forma abundante do olho visível enquanto o lugar onde o outro deveria estar, já se lembrava de Harold arrancando-o, doía como se estivessem enfiando uma lâmina ali. Com um som abafado, arrancou o curativo do lugar e deparou-se com um buraco tão vazio quanto se sentia agora.

    Sentia a raiva ferver no peito, a frustração, o desapontamento consigo mesmo, a vergonha acima de tudo. Queria gritar, queria quebrar tudo, queria fazer algo, mas não tinha força para expressar nada disso. Nero, o que tinha feito com Nero? O que INFERNOS TINHA FEITO COM NERO?! Não podia acreditar que tinha se entregado tão fácil, não podia acreditar que tinha atacado ele, não podia acreditar em tudo que tinha escolhido fazer. Era um traidor, por que não tinham lhe matado de uma vez? Por que?!

    Respirando pesado pelo terror que o assolou quando pensou que o outro poderia estar morto por sua culpa, acabou perdendo a força nas pernas e caiu no chão em meio as lágrimas, abraçando as próprias pernas e escondendo o rosto ao que se encolhia contra a parede.


    Última edição por Heike_Walker em Qua maio 21, 2014 7:51 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem por Rin Damien Qua maio 21, 2014 7:29 pm

    O tempo parecia passar desnecessariamente lento nos dias que se seguiram o caos da nave e a reunião de Abel. Todos tiveram que tirar um tempo para se recuperar, fosse de ferimentos, em alguns casos, ou da carga emocional que aquilo trouxe aos regentes. Em maior parte, o primeiro caso, se não, os dois. Rin ajudava como podia; tentava monitorar os guerreiros gravemente feridos, enquanto lidava com cidadãos que precisavam de apoio médico graças às consequências do vírus em seus corpos. Além de que, com a reunião, vieram novas responsabilidades, agora como um dos líderes dos signos. No entanto, não reclamara por nem um segundo. Se era seu trabalho, mesmo que fosse cansativo, faria o necessário. Ninguém naquele ambiente estava em posição para descansar.  

    Talvez fosse coincidência que estivesse checando o estado de Nero – que se encontrava bem melhor após duas semanas – quando uma enfermeira apareceu, desesperada, o informando que o regente de áries havia acordado, e, é claro, não parara quieto. O virginiano suspirou, cansado. Agora como líder, além de curandeiro, teria que conversar com ele e tentar melhorar o estado psicológico alheio. Fazê-lo entender o que fizera e o que teriam de fazer pra melhorar a situação. Porém, um pequeno sorriso se abria em seu rosto, e disse à enfermeira que em um segundo estaria a caminho. Antes de ir, achou um papel qualquer para escrever apenas algumas palavras, e deixou-o na cabeceira do taurino, que, para a surpresa de ninguém, dormia. Ele acordou. Ele entenderia, e decidiria por si próprio o que fazer com aquela informação.

    Se encaminhou para o quarto de Heike, não se surpreendendo ao achar os objetos a quais ele deveria estar ligado, sem ele. Claro que seria um paciente difícil de se lidar. Olhou em volta, vendo a porta do banheiro entreaberta, e espiou o pequeno espaço para encontrar alguém em um estado em que nunca o suspeitaria de ser a pessoa que havia causado toda aquela violência na nave, muito menos a que estava sempre arranjando razões pra brigar por aí. Sentia certa pena, mas ao mesmo tempo, sabia que ele não a merecia. Se ajoelhou ao lado do outro, depositando a mão no ombro alheio para lhe chamar a atenção, enquanto se perguntava por onde começar.

    - Se levante e volte pra cama. Sei que você não quer, mas sua recuperação é importante. Eu vim conversar. – Pausou por um momento. Se ele se encontrava naquele estado, talvez não soubesse de todos os detalhes do que havia ocorrido. – Todos estão bem. Você se lembra de tudo? – Usava sua voz mais suave, reservada para pacientes abalados demais, ou para quando estava realmente com raiva de algo; apesar de ainda ter certo autoritarismo, necessário naquela situação.
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    Mensagem por Heike_Walker Qua maio 21, 2014 9:17 pm

    Naquele momento não existia nada para Heike além do medo e da dor que assolavam seu coração, sob a perspectiva de ter perdido Nero. E pior que isso, pela própria culpa.

    Soluçando alto sem conseguir se controlar, pela mente do ariano só vinham imagens dos dias que passara com Nero desde que o conhecera. Desde o primeiro segundo, cada provocação trocada com o mais velho, cada briga sem sentido movida pelo calor do momento, toda a raiva irracional que ele lhe causava sem sequer se esforçar para isso, todo desafio que ele representava em tantos aspectos.. E então a atração e a surpresa de cada toque que compartilharam, tão intensos e únicos, cada sensação nova descoberta e dividida entre suspiros e ofegos, toda a entrega e confiança que dera a ele e mais ninguém.. Todo o companheirismo que crescia cada dia mais a medida que superavam suas próprias dificuldades, as risadas e os sorrisos, as lágrimas, a satisfação de apenas estarem dividindo o mesmo espaço ou lutando lado a lado, o sentimento de que nada parecia tão certo só por estar ao seu lado... Tinha colocado tudo a perder, pelo quê?

    Apertando as próprias pernas contra o corpo, sentia-se sufocado com a perspectiva de nunca mais ver o regente de Touro de novo e ali sozinho num banheiro do hospital amaldiçoava a si mesmo por não ter dado o valor que o outro merecia, pelo menos ter sido menos estúpido e ter se dado conta do que sentia antes.. Talvez tivesse evitado o que aconteceu, toda a dor que causou... O que iria fazer agora? Como iria enfrentar toda a nave, como iria olhar para Ren, para Abel depois disso...?

    Tinha sido um fraco, um traidor, tinha deixado para trás tudo que acreditava, tudo que almejava ser por simplesmente não conseguir suportar o peso sozinho. Tinha se tornado o tipo de pessoa que mais detestava a troco de nada. Havia falhado como regente, havia falhado como líder, havia falhado como família, como companheiro, como amante. Havia falhado em todos os aspectos que procurava sempre dar o seu melhor.

    Afundando-se cada vez mais no turbilhão de pensamentos negativos que o envolviam, por pouco não notou Rin se aproximar com cuidado e proferir aquelas palavras que apesar de serem positivas, não ajudaram em nada a lhe acalmar ou amenizar o sentimento de derrota que pairava sobre si mesmo. Tendo apenas uma das vistas embaçada pelas lágrimas que não paravam de sair, confuso na dor e na necessidade de alguém por perto, Heike viu apenas o rosto conhecido do menor tão perto, os olhos claros e a voz que sempre o acalmou quando jovem, que acabou confundindo-o com Ren. E por confundi-lo com a única pessoa a quem realmente confiava cada mínimo aspecto de sua vida apesar de tudo, o maior não hesitou em abraçá-lo com força, afundando o rosto em seu ombro enquanto o pedia desculpas em sussurros quase desesperados.

    Heike, apesar de tudo, não passava de um rapaz que mal tinha completado seus vinte anos. Não passava de um rapaz, como muitos outros, que precisara amadurecer muito cedo e que precisara lidar com responsabilidades que uma hora acabariam sobrecarregando-o. Sem contar que era regido pelo elemento fogo, tornando tudo sempre tão emocional, expansivo, forte e intenso, fosse na alegria, na raiva e mesmo na dor.
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    Mensagem por Rin Damien Qua maio 21, 2014 10:10 pm

    A primeira coisa que notara quando Heike levantara a cabeça fora o olho machucado, a qual ele havia retirado o curativo que antes se encontrava lá. Teria que resolver isto. Segundo, foram as lágrimas; porém não teve tempo de notar muito mais ao ser abraçado com força e ter um ariano chorando em seu ombro como uma criança desolada. Esperara resistência, raiva e tristeza, certo. Mas não esperara isto. Rin poderia dizer que não era bom em consolar pessoas, muito menos era fã de contato físico, porém o puro desespero que sentia vindo do outro regente fazia a pena que sentira antes aumentar, assim como uma estranha simpatia pelo estado alheio – algo que ele também não merecia.

    Decidiu que antes de qualquer conversa, o ariano precisaria botar aquilo pra fora, já que só agora ele acordara e provavelmente estava notando a gravidade da situação. Entendia em parte o comportamento do outro, apesar de não entender porque ele próprio estava sendo abraçado. Talvez por ser a primeira pessoa que vista pelo outro regente? Enquanto seu primeiro impulso normalmente seria afastá-lo e mandá-lo parar de chorar, aquela reação não traria nada de produtivo à conversa que queria ter. Então, envolveu o corpo alheio com os braços, murmurando palavras calmantes que normalmente via mães falarem a seus filhos. Que já ouvira muito a sua própria falar. Shh, vai ficar tudo bem. Está tudo bem. Vai melhorar.

    Mesmo que não tivesse qualquer afeição para com Heike e que precisasse falar sério com ele, não se importava de fazer o que era necessário para o bem psicológico do outro. Então, apenas esperou a choradeira passar enquanto o consolava.
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    Mensagem por Heike_Walker Qua maio 21, 2014 11:19 pm

    Não sabia quanto tempo tinha ficado ali agarrado no menor, colocando todo aquele sentimento para fora, lágrimas de alívio e medo. Ao mesmo tempo em que um peso fora tirado de suas costas quando de maneira simples descobriu que o moreno estava bem, ao mesmo tempo outro peso tão grande quanto caiu sobre os ombros ao se dar conta de que não conseguiria encarar ele depois do que tinha feito. Sequer tinha coragem para isso.

    Um longo tempo se passou até que as lágrimas secassem e não tivesse mais nada para chorar, e ainda sim continuou mais um tempo abraçado a ele, aceitando o carinho vindo de suas palavras de bom grado. Sequer se lembrava da última vez que baixara a guarda tanto a ponto de precisar de consolo e carinho alheio, mas ali estava se agarrando a isso com todas as suas forças. Mais do que um mimo, a presença e apoio de alguém era uma necessidade pela mente tão fragilizada do ariano. Finalmente se afastou do outro, com o olho restante inchado e dolorido, a parte branca num vermelho que combinava com a profunda olheira em baixo deste.  Foi só então, quando se afastou com o sentimento de desolação ainda presente, que percebeu que o homem que estivera a tanto tempo abraçado não era Ren e sim Rin.

    Acabou corando de vergonha por ter mostrado um lado de si mesmo que talvez apenas Ren tivesse visto, para alguém que sequer conhecia direito. No estado em que estava nem se questionou sobre o motivo que o levara a confundi-lo, apenas abaixou a cabeça e se afastou mais um pouco, murmurando um último "desculpe".
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    Mensagem por Rin Damien Qui maio 22, 2014 12:28 am

    Apenas esperou, continuando a sussurrar as palavras de consolo e o mantendo próximo a si. Não tinha noção de quanto tempo se passara; apesar de saber não serem horas, parecia que uma eternidade se estendera até Heike parar de chorar, e outra, um pouco menor, até ele se afastar. Pela primeira vez também via o ariano sem graça, e se desculpando. Era óbvio para Rin que ele teria esta reação, e teve certa vontade de rir, apesar de ele próprio não saber como deveria reagir àquela situação. Apenas o lançou um olhar empático que falava claramente, não precisamos falar sobre isto. Tinham coisas mais importantes com o que lidar, de qualquer forma.

    Se levantou, se amaldiçoando internamente ao perceber que tinha estado no chão de um banheiro, mesmo que fosse da ala hospitalar da nave. Ainda assim, não achava higiênico. Gesticulou para Heike o seguir, aliviado ao ver que ele o fazia e se sentava na cama sem maiores problemas. Primeiro trabalhou conectar o soro e os aparelhos novamente nele, e depois em refazer o curativo no olho machucado. Tendo isto feito, sentou-se na cadeira localizada ao lado da cama, reservada para visitantes dos pacientes. O encarou por alguns momentos, pensativo, antes de começar a falar.

    - Bom, antes de tudo, eu quero saber como você está. Fisicamente e emocionalmente. Apesar do que aconteceu ter sido em parte culpa sua, Abel e nós sabemos que teve uma energia maior em jogo, e é por isso que você está aqui, e vai continuar como regente. Mas, você não é mais líder, e nem Harold. O cargo foi pra Nero e pra mim. E eu vim aqui tanto pra ver seu estado, quanto pra entender o que aconteceu com você, e pra te ajudar a lidar com isso. Acho que você já tem noção das consequências. Vai precisar de treinamento, e de tempo. E nós também. Todos os guerreiros vão passar por treinamento especial assim que estiverem recuperados. Não somos fracos, mas não podermos ter possibilidades de tantas baixas na mão de uma só pessoa.
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    Mensagem por Heike_Walker Qui maio 22, 2014 7:13 pm

    Quando viu o menor se levantar e fazer um gesto para que o seguisse, Heike conteve a vontade de suspirar pesadamente. Não queria sair dali, talvez nunca mais, queria se isolar e evitar todos os problemas que tinha causado.

    Não era nada digno, claro. Mas não é como se agora se importasse, não é como se agora pudesse se iludir achando que tinha qualquer orgulho ou dignidade.

    Mas sabia que o outro não deixaria que ficasse ali sozinho, então levantou-se sem qualquer vontade e caminhou com a vista baixa até a cama, sentando-se nesta em silêncio. Deixou que o loiro ligasse novamente os aparelhos a si e mesmo que tivesse ficado aflito ao que ele refazia o curativo no olho, não mostrou qualquer indicação de que reagiria. Após tudo feito, viu ele se afastar e se sentar na poltrona, e não foi difícil imaginar o que viria a seguir.

    A voz baixa e calma de Rin de certa forma era quase reconfortante de se escutar, foi o que pensou enquanto se ajeitava mais confortável na cama, ainda que o assunto se mostrasse tão desagradável. Sequer conseguiu ter qualquer pensamentos irônico quando ele perguntou como estava se sentindo, e apenas se encolheu sobre os lençóis claros como se tivesse sido atingido com o resto da frase. Não estava exatamente surpreso que não era mais o líder, a surpresa se dava no fato de que aparentemente não tinha sido realmente punido de maneira nenhuma. Assentiu ao término de suas palavras e permaneceu em silêncio por um longo momento.

    - Eu não sei mais do que vocês. Nasci assim e treino com Ren para suprimir essa energia desde minha primeira crise, quando era criança. - admitiu num fio de voz fraco demais. Realmente não entendia o que era isso. Tentou se lembrar de algo enquanto estava perdendo o controle, mas nada parecia relevante, lembrava-se de pouca coisa aleatória, alucinações sem sentido.

    Os pensamentos acabaram se voltando para Nero e Heike se sentiu ligeiramente tonto, o esforço usado desde que acordou já cobrando seu preço e o deixando esgotado.
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    Mensagem por Rin Damien Qui maio 22, 2014 7:49 pm

    Rin percebia a quantidade de informações que ele próprio não possuía claramente. Não sabia o que era aquela energia maligna de Heike, ou nada sobre o passado dele. Não sabia que algo do tipo já havia ocorrido, apesar de imaginar tal possibilidade, sendo que Ren pela primeira vez que vira na vida fora útil e parara o regente de áries; ele só saberia como fazê-lo se não fosse algo novo. Precisava ouvir mais. Observava o comportamento alheio atentamente, notando que o outro parecia ainda mais fraco de que quando o vira chorando.

    - Fugir não vai adiantar nada. – Constatou, simples e claramente. – O porquê de você nascer assim, o que aconteceu no seu passado e o que está acontecendo agora. Se você se esquivar, vai ser como se ignorasse todos que machucaram por conta disso.  Claro, você vai treinar mais, e esperamos que possa se conter se isso acontecer de novo. Mas, você tem que aceitar o que aconteceu. E falar sobre isso vai ajudar todos a entenderem um pouco mais. E não só isso, vai te ajudar a ficar mais forte. Falar não só sobre os fatos, mas sobre você. O que você sente e sentiu naquelas horas. – Cruzou os braços, seu tom de voz não saindo do eixo em nenhum segundo. Apesar de ter dúvidas se realmente conseguiria ajuda-lo, continuou.

    Acho que nesse caso é mais fácil conversar com alguém a quem você não seja muito ligado. Mas de qualquer forma, não vou te fazer falar agora, se quiser descansar. – Claro que aquele seria outro processo demorado. Os ferimentos dele com certeza eram profundos, apesar de não serem visíveis. Seria melhor para todos que isto fosse feito logo, mas tentar forçar alguém de áries a fazer algo que não quisesse no momento era improdutivo. Deixaria que ele decidisse.
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    Mensagem por Heike_Walker Sex maio 23, 2014 11:34 am

    Escutava o menor falar, mantendo-se quieto enquanto questionava internamente cada frase dita por ele. Sequer tinha qualquer esperanças de conseguir pensar positivo naquela situação. Fitou o regente da constelação de virgem meio de lado, com a aparência fragilizada.

    Rin provavelmente deveria ser quase 10 anos mais velho que a si mesmo, talvez mais, talvez menos. Nunca tivera muito contato com o loiro e para ser sincero nem se interessava. O regente era pequeno e não possuía qualquer força física, além se sua personalidade ser madura, séria e centrada (ainda que afiada), e fazia parte do suporte dentro da nave. Em nada o mais velho despertara interesse suficiente em Heike para que tentasse qualquer interação. Mas ao mesmo tempo em que o fitava com o olhar vazio, pensando essas coisas críticas e indiferentes, também notava os traços tão conhecidos dele pela primeira vez com mais atenção.

    Já te disseram que você é quase a cópia exata do Ren? Perguntou baixo, ignorando completamente tudo que ele havia dito mais por distração do que por desprezo. Notando a gafe, desviou o olhar e empurrou a constatação para o fundo da cabeça, permitindo-se suspirar pesadamente. Rin não era tão mal assim. O momento que ambos tiveram no banheiro voltou a mente e o ariano se encolheu ao lembrar das palavras de consolo e do calor reconfortante de seu abraço... Talvez ele tivesse razão, talvez fosse melhor conversar sobre isso com alguém desconhecido, apesar de desejar a presença de Ren ali quase desesperadamente. Ren podia ser o que for, mas era a única pessoa que confiava.

    Ren... O que ele estaria pensando de si por ter perdido o controle depois de tantos anos de treino? O que ele estaria pensando de si depois de ter quase matado o albino que ele vivia pendurado para cima e para baixo? Será que era odiado, agora? Sabia o quanto o ruivo prezava por quem tinha afeto, principalmente por ter perdido tantas pessoas. E tinha feito ele passar por tal coisa novamente...

    Perdendo-se nessa linha de pensamentos negativos, encolheu-se ainda mais e se deitou de costas para Rin, sentindo o coração pesar terrívelmente. Não recisa se dar ao trabalho. Me prendam em algum lugar ou me matem de uma vez, que tudo estará resolvido. Murmurou com certa dificuldade, fechando os olhos decidido a ignorar o menor a partir de então.
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    Mensagem por Rin Damien Sex maio 23, 2014 12:11 pm

    Piscou, estranhamente surpreso, ao ter aquela pergunta direcionada a si. Talvez apenas por isso deixara de lado por alguns segundos o fato de suas palavras terem sido ignoradas, apesar de ter certeza de que foram ouvidas. Este pequeno momento de surpresa fora o suficiente para que Heike novamente fechasse sua mente e se isolasse, mesmo que ainda estivessem no mesmo quarto. Sentia a negatividade do outro de onde estava sentado.

    Sendo assim, levantou-se, e andou até a cama do ariano, sentando-se na borda, ligeiramente de lado, de modo que encarasse as costas dele. - Já me disseram isso, sim. Ouvi dele mesmo, aliás. - Decidiu responder a pergunta, no tom mais suave possível. Lembrava-se bem da conversa com Ren. Como gostaria de poder ignorá-lo permanentemente. - Prefiro achar que nos parecemos apenas por coincidência. Mesmo que eu saiba que não é a única opção. – Decidira que talvez o primeiro passo para fazê-lo falar, além do que já havia exposto, seria ele próprio falar de algo vagamente interessante.

    Era estranho, mas os regente de áries e de sagitário tinham uma conexão profunda; e era a primeira vez que Rin admitia a qualquer pessoa que sabia que ele e Ren poderiam ser conectados por outra razão. O sagitariano falara muito do pai, mas falava como se não se lembrasse da mãe. Rin nunca nem ouvira falar do próprio pai. Era esperto o suficiente para saber que o laço poderia existir, mas preferia fingir arduamente que não tinha nada a ver com aquela pessoa. O que era estranhamente contraprodutivo, vendo que o objetivo dele entrar para os guerreiros em primeiro lugar era achar o pai. Descobrir o que havia ocorrido. Matá-lo. Ainda assim, compartilhou o pensamento com Heike. Talvez ativasse as engrenagens do cérebro alheio. Um pensamento meu por um seu, que tal?

    - Ninguém vai te prender, ou te matar. Acreditam em você. Se dê algum crédito, e acredite na confiança deles. Senão, nada vai mudar. – Voltou ao assunto pendente, que era mais importante. Se nada daquilo tirasse uma resposta do ariano, o daria algum tempo e o deixaria descansar. Mas estava ali para tentar, não era?
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    Mensagem por Heike_Walker Sáb maio 24, 2014 1:56 pm

    Pelo cansaço que já tomava conta do corpo novamente, naquele meio tempo de silêncio que se seguiu acabou cochilando por alguns segundos, perdendo-se na inconsciência. Tanto que quando a cama sofreu um leve desnível pelo peso alheio, acordou assustado. Ótimo.

    Respirou fundo tentando acalmar os batimentos cardíacos e continuou de costas para o loiro, ainda decidido a ignorá-lo. Mesmo que tivesse ficado de fato curioso com o comentário relacionado a Ren, não se sentia disposto o suficiente para se manifestar. Eventualmente acabaria voltando naquele assunto, mas agora tudo o que queria era ficar sozinho. Mais do que apenas querer, ele precisava disso.
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    Mensagem por taurusnero Seg Jun 02, 2014 1:11 pm

    Despertar sempre era algo problemático para o taurino. Suas pálpebras sempre pareciam coladas, e de uma forma tal, que sentia que era impossível separá-las; seu corpo sempre parecia pesado como chumbo, ou talvez algo mais pesado, já que já conseguira carregar muitos quilos de chumbo; e seus sonhos sempre pareciam muito mais interessantes do que despertar para a realidade. Ou seja, sempre travava uma incrível batalha antes de acordar. Porém, desde que fora internado para resolver os problemas em seu corpo, não conseguia seguir a rotina natural a qual costumava estar amarrado. Os "sempres" pararam de existir, e, por mais que ainda dormisse bastante, acordava constantemente assustado, como se tivesse levado um choque, e para rapidamente questionar sobre Heike.

    Já era óbvio para qualquer um o quanto ele ansiava por ver o ariano acordado, ou por simplesmente visitá-lo, ver como estava, porém ainda se espantavam com a forma com que ele parecia afoito ao acordar. Estava sonhando com frequência com o outro, às vezes era algo tranquilo, em que ele despertava, algo que parecia real demais e que apenas decepcionava o taurino ao que ele acordava, questionava, e a resposta vinha em uma negação. Outras vezes, tinha pesadelos, e ou Heike tinha destruído tudo novamente, ou ele havia sofrido alguma complicação e morrido, o que o fazia ainda mais nervoso ao buscar notícias com os enfermeiros.

    Nero já sentia-se a ponto de enlouquecer, e, naquele dia em específico, forçou-se a ficar um pouco mais na cama, ignorando por completo qualquer um dos sonhos que tivera naquela noite. Obrigava-se a encarar que aquela não era a realidade antes de abrir os olhos. No entanto, não demorou naquela posição, não conseguia ficar tranquilo por muito tempo, e, por isso, ergueu-se, sentando na cama e lançando um olhar breve ao redor. Pelo visto a maioria das pessoas já haviam saído de seus turnos, ou, até, ido dormir. Tinha perdido a noção de tempo naquele ambiente excessivamente branco. Suspirou, coçando a cabeça, e deixando os dedos deslizarem pela orelha recém recuperada. Provavelmente seria liberado logo, mas aquilo não o animava de verdade. Por mais irreal que parecesse, não estava com vontade de voltar para o seu quarto. Ele estava muito vazio. Suspirou, descendo o olhar para a cômoda ao seu lado, onde visualizou um papel com uma caligrafia bem desenhada... Sentiu o estômago revirar e a boca secar. E fora só ler o que estava escrito, para que toda a energia voltasse a si, e seu corpo estivesse de pé em um instante.

    Sorte era ter a prótese que Zion havia feito para si, ou teria acabado ao chão, já que sequer conseguira pensar antes de mover-se. Aliás, ainda não pensava quando seguiu caminho prestes a correr, esquecendo completamente que estava ligado a umas máquinas, e as arrastando com um barulho alto. Abriu um sorriso torto, olhando ao redor com um ar de desajeito, antes que se livrasse de todos os fios, e voltasse à sua velocidade exagerada. Pena não ter podido se exercitar adequadamente, pena ter emagrecido graças à alimentação recomendada para sua recuperação, pena tudo que o impedia de ser mais rápido. Ainda que para alguém em seu estado, ter alcançando o local onde o outro estava em poucos minutos, já fosse um enorme feito. Mal sabia, até, como não sentira o incômodo que vinha o perseguindo desde que colocara a perna nova. Ou, talvez, estivesse focado demais no seu intento, o que lhe fez esquecer completamente de respirar, ou dos bons modos, já que a porta do quarto de Heike fora aberta com tudo, ao mesmo que sua voz escapava em um chamado muito mais alto que o natural.

    - Heike! - E sequer se permitiu ter tempo de sentir constrangimento, avançando para mais perto do outro.
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    Mensagem por Heike_Walker Seg Jun 09, 2014 10:42 pm

    No estado em que estava Heike sequer notou quando o virginiano deixou o local, apenas fixou a visão do olho restante num ponto específico no chão perto a parede e acabou adormecendo logo em seguida.

    Porém contrariando as outras vezes seu sono fora extremamente leve e repleto de sonhos perturbadores; por conta disso acabou acordando ofegante minutos depois, sozinho no quarto escuro. Passando a mão sobre o rosto para limpar o suor, o ariano respirou fundo enquanto tentava se acalmar, fitando a luz fraca e pálida que vinha das paredes rente ao teto de um modo aborrecido. Como poderia descansar se pelo visto não teria paz nem mesmo durante os sonhos? Como poderia enfrentar a realidade se as sombras do que havia feito estavam tão presentes na memória e no próprio corpo?

    Sentando-se com certa dificuldade, piscou e fitou a penumbra do quarto em silêncio, tentando não pensar em nada. Teve sucesso por um momento, mas ali naquele silêncio forçando a mente a ficar vazia, não havia absolutamente nada com que pudesse se distrair. Mesmo que houvesse duvidava muito que fosse conseguir ler ou assistir algo, duvidava muito que fosse conseguir prestar atenção em qualquer coisa, que fosse realmente conseguir se distrair. Para alguém que sempre tivera metas bem definidas e que sempre se esforçara ao máximo para virar alguém importante, para seguir os passos do avô e ganhar o respeito e admiração de todos, para ter força o suficiente para proteger a todos... Havia falhado miseravelmente. Não só com as pessoas que esperavam algo de si, mas também consigo mesmo. Tinha falhado feio e nada poderia mudar isso. Dessa vez não precisava de nenhuma sombra ou visão dizendo o quanto ele era fraco, o quanto era ridículo. Dessa vez a própria mente fazia questão de repetir a cada segundo. E todo o fogo que sentira no peito quando passou por isso pela primeira vez agora tinha apagado, e no lugar das chamas, só existiam cinzas.

    No frio e no escuro, Heike se encolheu sob os lençóis e deitou em posição fetal enquanto fitava as luzes do equipamento que o monitoravam piscarem vez ou outra em silêncio. De repente o quarto pareceu grande demais e frio demais, ao passo o jovem sentia-se pequeno demais e vulnerável como nunca. A solidão no ambiente silencioso cresceu no peito e os olhos arderam em lágrimas, e o pior de tudo é que mesmo quando finalmente admitia que não conseguia sozinho, não podia contar com mais ninguém. Não podia porque não se sentia capaz nem digno, não depois de tudo que havia feito contra os próprios companheiros. Havia quebrado a confiança que principalmente Ren, Abel e Nero tinham em si. Havia quebrado a confiança em si mesmo e agora o que restava do ariano era um monte de cacos, aparentemente impossível de ser restaurado. Sentia-se vazio.

    Abraçando o próprio corpo com força, soluçou e escondeu o rosto no travesseiro ao que deixava as lágrimas silenciosas escorrerem livres novamente. Já não havia mais orgulho e tudo o que conseguia pensar no momento era por quê infernos Abel não tinha mandado executá-lo ou prendê-lo de uma vez em qualquer lugar inacessível.

    Com a mente perdida naquela sessão de autocríticas negativas, Heike levou um susto tão grande quando a porta do quarto foi aberta com violência e Nero, de todas as pessoas, entrou ali gritando seu nome, que o regente levantou-se num pulo alerta e acabou enroscando por acidente as pernas no lençol e enrolando-se nos fios presos ao braço, indo com brutalidade ao chão em resultado. Tremendo no que parecia algo próximo a pavor o ariano fitou o taurino em choque dali de onde estava, pouco se importando com a dor da queda e sentindo-se praticamente paralisado. Os próximos segundos pareceram uma eternidade em que tudo que conseguia pensar era no nervosismo que sentia já que não, não estava nem próximo de estar pronto para ver ele; que se mesclava a um alívio aterrorizante de ver que infernos, ele estava bem.

    Com as lágrimas nos olhos se tornando abundantes, Heike estava pronto para chamá-lo quando Nero deu o primeiro passo em sua direção e um barulho metálico ecoou pelo quarto. O olho fixou-se em suas pernas no mesmo instante a procura da fonte daquilo e foi com horror que notou a perna metálica presa ao corpo do mais velho. E foi nesse milésimo de segundo que todo o alívio se transformou em culpa e todo o receio, medo e vergonha que sentira anteriormente voltara com uma força tripla, as memórias do que tinha causado primeiro homem que amou e confiou acertando-o com a força de um soco.

    Afastou-se com rapidez como podia no estado em que estava, encostando-se encolhido contra a parede. N-Não se aproxime! Conseguiu dizer de maneira altiva ainda que a voz tivesse falhado terrivelmente, a expressão derrotada e apavorada repleta de lágrimas demonstrando tudo o que sentia no momento.
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    Mensagem por taurusnero Qua Jun 11, 2014 10:40 am

    Precisava auxiliar Heike. Aquilo foi tudo que passou por sua mente, quando visualizara a queda alheia, um acidente que não deveria existir enquanto o outro ainda se recuperava. O ariano precisava descansar, não podia se machucar mais, não quando já estava em um estado tão ruim ao ponto de passar tanto tempo apagado. Mas, fora no momento em que tentara alcançá-lo, em passos apressados e respiração ofegante, que percebeu que havia algo de errado na expressão alheia.

    Não era idiota. Havia assistido para onde o olhar de Heike havia sido guiado, e mesmo o seu o acompanhou, curiosamente, para que logo sentisse o desespero invadir seu corpo. Aquele não era um bom sinal, muito menos a expressão que vira quando voltara a fitar o outro, aquele olhar de alguém horrorizado, perdido, culpado. Claro, não precisava somente de seus próprios pensamentos para gritar que aquilo não daria certo, as palavras do ariano fizeram questão de ressaltar que a situação não era nada favorável a um reencontro feliz, afinal, ele havia reparado na prótese e... A falta de sua perna havia sido um erro do outro rapaz. Obviamente, Nero sabia que a frase não era de todo correta, sabia que o menor nunca faria algo do tipo em sã consciência, tanto que sempre confiara no mesmo como líder - por mais que nunca tivesse expressado aquilo em palavras -, e se recusara a tirar sua vida, mas faltava Heike perceber isso. E não seria se forçando a ele que tudo se resolveria, certo?

    Talvez. Mas quem se importava? Não adiantaria forçar, mas também não funcionaria ser passivo naquela situação. Qual era a melhor situação? Qual a melhor atitude a ser tomada? Nada parecia bom o suficiente. O taurino puxou o ar com força, e tentou encarar Heike com a expressão mais tranquila que conseguira, ainda que se assemelhasse muito à sua natural, antes de sentar-se no local onde havia parado, sem avançar e nem retroceder. Não irei me aproximar, mas também não sairei daqui. Suas palavras eram rígidas, tanto que ninguém conseguiria contestá-las, algo em que punha toda a dureza e teimosia de seu signo. E mesmo quando tudo que queria era cruzar aquele quarto e abraçar o outro com toda a força que possuía, enxugar as lágrimas que surgiam no olhar do menor, a quem podia sentir o quão machucado estava por apenas ver a figura forte reduzida a uma criatura tão pequena, que não conseguia fazer mais que encolher-se e fugir de si.

    Você está com medo de me encarar? Perguntou em um tom gentil, por mais que um ar doloroso escapasse com a questão. Ou isso aqui é feio demais pra você? Algumas batidinhas com os nós dos dedos na prótese, e o som metálico espalhou-se novamente. Isso tudo faz com que não queira me ver? Isso machuca um pouco, porque passei esses dias todos querendo te ver. Então um sorriso pequeno passou pelos lábios do taurino, ao mesmo que desviava o olhar para o chão pouco diante do corpo do ariano, a expressão torcida em constrangimento.
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    Mensagem por Heike_Walker Sáb Jun 21, 2014 4:44 pm

    O ariano não saberia dizer o que sentiu quando o maior, ainda que mantivesse uma expressão suave, se sentou a sua frente daquele jeito bruto fazendo o barulho do metal em sua perna ecoar pelo quarto amplo como ondas, e disse aquelas palavras firmes e diretas. Parecia até engraçado, se conseguisse achar graça em qualquer coisa no momento, que taurino sempre tão insensível para certos tipos de coisas agora se recusasse a lhe dar um espaço quando mais precisava. Poderia rir da grande ironia de merda que aquilo era, se ainda não estivesse se debulhando em lágrimas espessas e abundantes.

    Ali a sua frente encostou-se mais contra a parede e mordeu o lábio inferior com força, o que não o impediu de respirar pesado em soluços e ofegos, então direcionou a orbe para o chão sem força alguma para lhe encarar. Mal conseguia enxergar com o olho restante por conta do choro e este doía miseravelmente, uma pressão angustiante e pulsante se fazendo presente ao mesmo tempo em que o vazio do outro lado ardia com força, talvez pelas lágrimas salgadas que escorriam para dentro, não saberia dizer. Heike pensou naquele um momento se aquela terrível sensação de estar faltando algo essencial que sentia pela falta do olho era semelhante ao que Nero deveria estar sentindo pela falta da perna. A culpa que o consumia no momento era enfadonha, pior que isso, terrível. Poderia não estar realmente no próprio juízo quando fez aquilo contra o outro regente, mas lembrava-se de como queria aquilo. Lembrava-se do prazer quando sentiu a vibração do osso quebrando para frente e do som da carne e dos músculos se rasgando com tanta facilidade. Pensar nisso agora o deixava enjoado e Heike teve de fazer um esforço para não acabar vomitando. Claro que já havia ferido pessoas e já havia matado criaturas vivas, mas pensar em realmente fazer tal coisa com Nero era assustador.

    E na confusão em que estava, mesmo considerar o motivo de ter machucado ele daquela maneira ser tão impensável já era o suficiente para deixar o jovem ainda mais perdido. Afinal, nunca tinha sentido nada de especial por ninguém além de admiração e lealdade, exclusivos para seu avô, Abel e pasmem, Ren. Então talvez fosse justificável aquela dor no coração, aquele medo de perder o que se tornara tão importante. Arriscou olhar para ele, mas a intensidade com que era encarado logo fez com que desviasse o olhar e fechar os olhos com força respirando fundo, e dessa forma foi inevitável pensar nos momentos que dividira com o maior, desde as brigas tão divertidas e violentas até os toques íntimos, os olhares, as conversas, os sorrisos, os carinhos que se permitira receber e distribuir. Carinho. Carinho era algo que nunca tivera de ninguém e nem se importava, na verdade sempre achou tal coisa irritante e inútil, mas com Nero descobrira o quanto era reconfortante. E naquele momento tudo o que queria era poder se afundar em seus braços, sentir o calor acolhedor e protetor de seu corpo, ouvi-lo dizer que não havia nada de errado e que fora tudo um sonho ruim.

    Abraçou o próprio corpo e escondeu o rosto contra as pernas, as lágrimas abundantes escorrendo em silêncio. Não, não tinha medo de encarar o moreno e a questão não era se aquilo era feio. A questão no momento é o que aquilo representa, sua fraqueza. Sentia que tinha traído o maior ao se deixar fazer aquilo e para alguém que colocava a lealdade acima de tudo, era o fim. Não se sentia digno de estar em sua presença e a vergonha de si mesmo era esmagadora. Não estava pronto para lhe encarar, não ainda. Talvez nunca.

    No final, toda a pressão que colocava em cima de si mesmo foi demais para aguentar, assim o rapaz levantou-se abruptamente e encarou o guerreiro com firmeza. Queria se desculpar, queria pedir perdão, queria poder fazer algo para compensar-lhe a perna perdida, queria acima de tudo, por infernos, dizer que amava ele. Mas no fim, era fraco demais até para isso.

    Desviando o olhar, disparou quarto afora arrancando todos os aparelhos ligados si no movimento brusco que fez, e mesmo que não conseguisse correr com velocidade a covardia deu-lhe força o suficiente para manter um ritmo bom. Não via ninguém pelo caminho e nem prestava atenção se estava sendo seguido, só queria achar um lugar para ficar sozinho. Logo encontrou: uma abertura que dava a um pequeno terraço isolado usado somente para a manutenção por fora da nave. Respirando com dificuldade pelo esforço, sentou-se num canto entre uma grande caixa metálica e a parede num espaço suficiente apenas para o seu corpo e fechou os olhos, tentando se acalmar. Apesar do local estar muito frio pela hora e altura, pelo menos ali teria paz.
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por taurusnero Qui Jul 03, 2014 11:05 am

    Não conseguia acreditar na cena que estava se desenrolando diante de si. Não podia se dar ao luxo de crer que, após todo aquele tempo, Heike apenas se erguera e disparara porta afora, sem sequer se preocupar em dizer qualquer coisa que fosse a si. Qualquer coisa. Tudo que ganhara fora um olhar, que foi firme o suficiente para fazer Nero sentir-se impelido a tentar falar algo mais, porém só precisara de um instante para que o ariano desaparecesse de suas vistas, quase como se nunca estivesse ali.

    Certo, desde o momento em que entrara ali, sabia que não conseguiria as coisas facilmente. Sabia que o outro guerreiro estava abalado, e deveria estar muito mais do que imaginava. Afinal ele causara danos incríveis... E terríveis. Muitos feridos, alguns quase morreram, e, uma dessas pessoas, fora justamente o taurino. Heike o havia ferido de um jeito absurdo, e praticamente permanente. Não tinha mais metade de uma das pernas, e não se via clamando a Rin para que aquele pedaço fosse reconstituído, não ousaria dar tamanho trabalho e causar danos ao mais velho. Não se importava de viver com aquela marca.

    Mas, pelo visto, ela não seria um fator nada positivo em suas tentativas de se aproximar de Heike. Pode ver, por todos aqueles momentos, o corpo menor se encolher, derramar lágrimas, parecer querer fundir-se a parede... E começara a questionar as próprias ações. Talvez Nero não devesse estar ali, talvez devesse prendê-lo em um abraço e tentar acalmá-lo até que parasse de chorar, talvez devesse esperar mais distante. Haviam muitos talvezes, mas nenhum deles serviria mais de resposta imediata, e teria tempo o suficiente para repensar o que fazer, enquanto procurava o ariano pela nave.

    Suspirou, pesadamente, buscando erguer-se, e para que logo voltasse ao chão tamanha dor que sentiu. Havia algo de errado, e justamente na perna que lhe faltava. Parecia que alguma ligação da parte metálica aos nervos do taurino havia se rompido, talvez quando sentara bruscamente diante do companheiro, e a sensação era exagerada o suficiente para fazer o homem, naturalmente inexpressivo, torcer a face. Pelo visto, sobreviver havia sido uma sorte tão grande, que, daquele instante em diante, faltariam momentos certos na vida do moreno. Nero seria a criatura mais azarada da face da terra, e até que pudesse cumprir seu destino e simplesmente morrer. Um pensamento dramático demais para alguém de seu signo, e algo ao que não tinha realmente tempo para se prender. Grunhiu, forçando-se a levantar o corpo novamente, tentando desviar a mente da dor, e para focar no que deveria fazer. Precisava encontrar Heike, e faria aquilo.

    O caminho fora lento, seu corpo arrastando a perna deficiente, que não mais respondia aos seus comandos adequadamente, enquanto se esforçava para farejar a presença do outro. Tentava escutá-lo, ou senti-lo sob o pé bom, buscando qualquer indício da existência dele por onde passava. Mas, por algum milagre, não sentia-se desesperado ou algo do tipo, aliás, não sabia dar nome à sensação que o invadia. Era quente, porém gelava as pontas do dedo, e parecia nublar seus sentidos e tencionar os músculos. Não era por causa da dor, sabia, ainda que crescesse como se fosse, a cada novo passo que dava em busca do mais baixo. E demorou um pouco até que pudesse, enfim, identificar o possível esconderijo do mais novo, assim como o que sentia. Respirou fundo, tentando conter-se, enquanto seguia ciente de que o outro poderia escutar sua locomoção, já que o metal arrastava no chão sem qualquer sutileza, acompanhando o passo pesado do outro pé. Nero não queria se esconder. Na verdade, estava longe de querer ser silencioso, ou parecer gentil, afinal, Heike iria fugir na primeira oportunidade que tivesse, então que fizesse aquilo do seu jeito.

    Jogou-se ao chão, não se importando com o impacto que aquele gesto causaria, e, de forma agressiva, arrancou a perna metálica de si, causando um som alto que se espalhou e ecoou pelo corredor vazio. Ainda sem dizer qualquer coisa, jogou aquilo logo diante de onde o ariano estava, bem em seu campo de visão, enfim mostrando o que sentia. Estava extremamente irritado. Você vê isso?! Gritou, e, pela primeira vez, sentiu a frustração escapando de seus lábios em uma raiva desnecessária. É por sua causa que eu tenho isso. E agora? Como vai me compensar? Me ignorando e fugindo de mim? Eu não quero isso. Tente de novo.
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por Heike_Walker Qui Jul 03, 2014 12:28 pm

    Estava tão perdido nos próprios pensamentos que a medida que o tempo ia passando o ariano desligava-se completamente do mundo ao redor, fitando um ponto indefinido no chão. As lágrimas haviam secado e não havia mais sentimento de desespero ou culpa. O frio no local escuro era quase anestesiante e o silêncio contribuía ainda mais para que se acalmasse.

    Estava convencido de que Nero não iria atrás de si e sentia-se aliviado por tal coisa. Não ter que encarar todos aqueles sentimentos que o moreno lhe causava depois de tudo que aconteceu era tudo o que queria, era fácil, mas não menos doloroso. Não era como se internamente, soubesse que ainda estava tudo ali e que não dava pra fugir pra sempre. Heike apenas... Não sabia o que fazer.

    O problema não era pedir desculpas, pedir perdão ou coisa parecida. Nada do que falasse para ele mudaria o que fez, o que escolheu se deixar fazer, o que infernos, teve prazer em fazer. Como poderia remediar isso? Como poderia compensar ele por um membro perdido, por toda a dor e inconveniência que aquilo implicava? Heike sequer conseguia pensar em tal coisa sem se sentir nauseado. Como poderia encarar Nero novamente depois do que tinha feito? Não tinha a menor idéia.  Suspirando fraco, passou a mão pelo cabelo agora curto e fechou o olho, deixando o corpo pesar contra a parede metálica até que pôde escutar alguém se aproximar, mas o som pareceu tão distante na mente do rapaz que sequer deu atenção.

    Porém abriu o olho em pânico quando escutou um barulho alto e perto demais para ser ignorado, de algo caindo com força no chão para em seguida um som irritante aos ouvidos, de metal sendo quebrado e amassado. Deu um pulo no lugar quando uma perna mecânica voou com violência e bateu na parede bem a sua frente, espatifando-se e se quebrando em alguns pedaços e foi com o coração disparado que escutou a voz de Nero ecoar de repente no local com a força e imponência de um trovão. Encolheu-se contra a parede, sentindo as lágrimas voltarem ao olho já dolorido e não conseguiu impedir que elas escorressem a medida que as palavras do maior o atingiam como facas.

    Ficou em silêncio por um longo tempo, soluçando em meio ao choro silencioso sem realmente saber o que fazer ou como agir. Honestamente, estava apavorado. Não havia para onde correr já que Nero provavelmente estava na porta que dava para o corredor e a sua frente havia apenas a sacada.

    Era assim então?

    Engolindo seco, Heike respirou fundo e se levantou com certa dificuldade, dando um passo para frente e pegando a perna mecânica. Estava tremendo tanto que sequer sabia como conseguia segurar aquele peso, principalmente pelo que aquilo significava. Com as lágrimas ainda escorrendo, manteve o olhar baixo a se aproximou de Nero caído no chão, até que pudesse ajoelhar-se bem a sua frente. Ainda não encarava ele, mas abraçou a perna com força ao que mantinha aquela postura derrotada, soluçando vez ou outra por conta do choro. Estava com raiva, estava com medo, queria gritar com o moreno e sair dali, mas não tinha forças pra isso.

    O que você quer de mim...? Perguntou num fio de voz quebrada, encolhendo-se no lugar. Eu.. Quase te matei. Como posso compensar você, Nero? ... Você quer se vingar? Se for assim, vá em frente. Acabe com a minha vida. Eu traí a todos, traí você, traí a mim mesmo, eu mereço isso. Disse tudo pausado, a voz trêmula ao que apertava ainda mais a perna. Em momento algum olhou para Nero, não tinha coragem o suficiente para isso.
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    Mensagem por taurusnero Qui Jul 03, 2014 4:07 pm

    O ritmo de sua respiração estava desregulado. Nero ainda não havia se recuperado da irritação que sentira, muito menos do grito que escapara arranhando sua garganta, ou da dor de ter forçado o membro metálico para fora de si. Agira por impulso, claro, mas, pela primeira vez, não se arrependia de desonrar a neutralidade dos signos de terra. Não que quisesse ser irracional, não queria agir sem utilizar suas faculdades mentais adequadamente - aquilo era para os estúpidos de fogo -, mas precisava se livrar da sensação ruim. Precisava de que, de alguma forma, Heike o entendesse. E foi com o peito ainda subindo e descendo de forma forte, que conseguiu visualizar a figura do ariano.

    Em silêncio, observou o outro guerreiro recolher a perna que havia lançado, agindo de forma que parecia muito menor do que realmente era, e sem ousar lançar um olhar sequer em sua direção; o estômago de Nero se revirou em frustração, porém manteve o silêncio. Ficou calado por todos os instantes que assistira o corpo menor tremer, pelos instantes que ouvira os soluços escaparem dos lábios, que, outrora, somente fugiam palavras destemidas, e, por fim, não expusera a voz mesmo quando o outro se pronunciara, esperando pacientemente que ele chegasse a um fim... E o que ouviu o fez soltar um muxoxo irritadiço.

    É claro que quero me vingar, Heike, você pode ver a enorme vontade que tenho de descontar a minha quase morte, só pelo fato de ter corrido para te visitar quando soube que estava acordado. Um riso breve escapou dos lábios do taurino. Ou pela forma com que tentei conversar contigo... Antes de você sair correndo sem me dizer uma coisa qualquer. Faz todo o sentido. O ambiente, então, ficou silencioso por alguns longos instantes, o olhar de Nero sempre pesando no menor, como se o analisasse profundamente.

    No entanto a situação logo se findou, e, em um movimento rápido, os dígitos do taurino marcaram um dos pulsos do ariano, tamanha a firmeza com que o segurou. A prótese logo fora lançada novamente, retirada à força da posse do outro rapaz, e para que ela não impedisse o que mais desejava naquele instante...

    Envolver o corpo de Heike com o próprio.

    Era um abraço desajeitado, afinal, não havia se acostumado com a deficiência ainda, principalmente quando havia ganho um meio de vencê-la - e que estava destruído em algum canto por ali -, mas era firme. Os braços do taurino pareciam não querer deixar o outro fugir, não de novo, não mais uma vez, e sua face se escondia logo ao lado da alheia, praticamente afundada no ombro do outro homem, e de quem havia sentido uma falta descomunal. O corpo de Nero tremia levemente, involuntariamente, enquanto os dígitos de uma das mãos se afundavam por entre os fios curtos do cabelo do menor e os outros o prendiam contra si, o mais firme que conseguia, o mais próximo que podia. Eu não me importo de não ter uma perna... Sua voz era baixa, mas mesmo assim parecia falhar. Eu sinto falta, claro, porque ainda não me acostumei, mas eu vou me acostumar, você sabe que eu consigo. Eu já quase morri tantas vezes, Heike, não tenho medo disso... Mas eu estava realmente assustado dessa vez...

    A voz de Nero sumiu por um tempo, ainda que seu corpo continuasse a tremer. Sentia-se tão prestes a chorar, mas queria poder dizer o que sentia claramente ao outro, queria que ele entendesse... Então suas palmas subiram, colocaram-se de cada lado do rosto alheio, afagando a tez pálida, de quem parecia não viver mais há algum tempo, enquanto o fitava de forma assustada, infantilmente assustada. Em um medo que se mesclava ao alívio, e ainda era banhado em uma leve frustração. Eu não sei o que eu faria... Se eu não pudesse viver pra tentar te ajudar, se você... Engoliu em seco, puxando-o para perto para beijar a face do mais novo e voltar a abraçá-lo apertado. Eu estou realmente feliz por te ver vivo...
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por Heike_Walker Sex Jul 04, 2014 2:08 am

    Não foi difícil para o ariano notar o tom irônico usado pelo maior, ainda que este quase se perdesse em meio ao cansaço e a frustração que ele estava passando. O que Heike poderia fazer? Ele realmente não tinha a menor ideia do que faria pra compensar todos aqueles danos. Em sua mente fragilizada apenas desculpas não bastavam. Na verdade, nada bastaria àquele ponto.

    Porém, depois de tudo aquilo finalmente arriscou um olhar para o maior mesmo tendo a vista embaçada pelas lágrimas, sentiu o coração falhar uma batida ao se deparar com o intenso olhar que recebeu ao ter o pulso preso com tamanha firmeza e então a perna arrancada dos braços com força, assistindo com certo pânico ela voar para longe novamente. Virou-se para o taurino, tentando puxar o braço sem muita força e se encolhendo para longe ao que foi puxado para seus braços num abraço desajeitado e exigente, necessitado.

    Pelo choque da situação o ariano permaneceu completamente imóvel, sem conseguir se mover ou mesmo pensar. Nunca um contato com o outro foi tão desconfortável. Mas assim que fechou o olho restante e respirou fundo, permitiu-se afundar entre o calor acolhedor que ele oferecia e foi sem muita força que retribuiu o abraço, suspirando. Podia senti-lo tremendo leve contra o próprio corpo e o carinho que recebia era muito mais bem vindo do que pensava. Sentira tanta a falta dele... Sentira tanta falta de seu cheiro, sua presença perto de si, protetora e possessiva. Segurando-se em sua roupa, afundou o rosto contra o ombro sem conseguir conter o choro a medida que ouvia suas palavras. Era verdade... Aquele era Nero afinal, um rapaz tão jovem quanto a si mesmo, que provavelmente tinha passado por uma vida difícil, que mesmo tendo tantas responsabilidades ainda era um humano como qualquer outro, com medos e incertezas. Acima de tudo, Nero era seu guerreiro mais forte, era a pessoa que podia afirmar que confiava tanto quanto Ren ou Abel e de certa forma ainda mais do que os dois, mais do que qualquer um. Acima de qualquer coisa.. Amava Nero. E por isso talvez devesse lhe dar uma chance, certo? Mesmo que não merecesse estar perto dele, deviam pelo menos conversar e tirar tudo a limpo.

    Com o coração doendo ao pensar nisso e ao escutar suas ultimas palavras o ariano o abraçou com mais força ainda, como se tivesse medo de perdê-lo, ainda que em sua mente isso parecesse inevitável. O que.. O que você está falando seu imbecil...? Perguntou pausado e abafado contra seu pescoço, respirando pesado enquanto tentava parar de chorar. Aquilo já estava vergonhoso. Foi você que quase morreu. Disse num fio de voz em justificativa a pergunta anterior, afastando-se um pouco para que pudesse fitá-lo.

    Ainda estava com vergonha, é claro. E medo principalmente. Mas o encarou de forma demorada ao que tentava superar tais sentimentos, então desviou o olhar por um momento, levando a mão ao olho que não estava tampado e limpando as lágrimas dali. Me perdoe, Touro... Sussurrou machucado, sentindo os olhos arderem e então mordendo o lábio inferior com força tentando se segurar. Ainda tremendo, subiu as mãos subiu as mãos até o pescoço dele de um jeito quase suave e o puxou pela base do rosto para mais perto, juntando as testas.

    Me perdoe por ter sido fraco... Eu queria ao menos.. Ter uma desculpa para te dar, do porque fiz essas coisas. Mas nem isso tenho. Não sei o que aconteceu, eu não estava no meu corpo. Disse sem pressa, tentando se explicar e ser sincero do fundo da alma enquanto só se confundia ainda mais. Não tinha o que dizer e se abrir daquele jeito, naquele momento era terrivelmente difícil. Mas eu juro, minha intenção, de verdade, nunca foi te machucar desse jeito... Me perdoe Nero, me perdoe... Sei que isso não vai trazer sua perna de volta, mas você tem que entender.. Eu não queria... Eu não...
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por taurusnero Ter Jul 08, 2014 8:43 pm

    Apesar de toda tensão que rodeava a situação, Nero não conseguia sentir-se diferente de aliviado ao ter o corpo menor em seus braços. Ele parecia muito mais delicado, frágil, prestes a quebrar se forçasse muito, mas a verdade era que ele estava ali. Por pior que Heike estivesse, mesmo que chorasse contra si, ele não havia sumido, não havia fugido da nave, não havia sido morto... Ele estava ali, em seus braços, respirando. Podia ouvir os batimentos alheios, podia sentir o ar bater contra sua pele, a sua quentura, e a retribuição suave ao seu abraço... Podia atestar que ele estava vivo. E estava extremamente grato por poder estar junto a ele.

    Era quase inevitável sentir-se impelido a apertá-lo mais, por mais que não tivesse realizado sua vontade, principalmente quando ele viera questionar as suas palavras. Nero não conseguia sequer se ofender ao ser chamado de imbecil, não quando sentia o abraço também se firmar da parte de Heike, ou a forma como ele tentava parar de chorar enquanto se pronunciava daquela forma. Quando o ariano enfim o encarou, o maior precisou de muito para não pressioná-lo com ainda mais força contra si, observando a face marcada de lágrimas com um olhar suave, mas que não conseguia esconder o alívio que sentia. Eu não morri. Atestou, por fim, tentando mostrar ao outro o que era realmente importante. Não havia porque ele se culpar por algo que sequer se concretizara. Estavam ambos vivos, e aquilo que importava.

    Precisou assistir em silêncio a forma como ele enxugava as próprias lágrimas, ciente de que logo ouviria novamente a voz do mais novo, e simplesmente deixou-se levar pelo mesmo em todas as suas ações. Testas coladas, o olhar firme na face manchada, e à qual ajudou a limpar sem pensar muito, com um toque suave dos próprios dedos, enquanto ouvia o que ele tinha a lhe dizer. Não sabia o que passava na cabeça de Heike, por mais que tivesse uma impressão leve, e aquilo o frustrava, principalmente ao perceber que seus medos eram reais. Precisara ouvir os pedidos de perdão que ele direcionava a si, e sentiu um aperto forte no peito, ao que a face se torcia de forma dolorosa, incomodada. Sabia que ele nunca iria se perdoar pelo que aconteceu, mas não queria que ele achasse que o culpava também.

    Nero sabia que o ariano não era o responsável direto pelo acidente, chegava a sentia-se na obrigação de descobrir uma forma de vingá-lo; jamais considerara a hipótese de ter sido um desejo voluntário do mais novo. Por isso, aproximou os lábios aos alheios em um toque gentil, que tinha como propósito silenciá-lo, antes que, ao que cessar o selar, deixasse um sorriso pequeno e compreensivo passar por sua face, os dedos se afundando nos cabelos alheios mais uma vez. A culpa não foi sua. Eu sei que não quis, e não se preocupe, sou forte mesmo sem uma perna. O que importa é que agora está tudo bem, hn? Eu prometo que está.
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por Heike_Walker Sáb Jul 19, 2014 3:55 am

    Sim, nunca deixaria de se culpar pelo que tinha feito, afinal lembrava-se de cada mínimo detalhe das próprias ações e principalmente das consequências delas. Estar ali nos braços de Nero era reconfortante e sim, felizmente ele estava vivo e era isso que importava. Mas cada vez que lhe direcionava o olhar lembrava-se da expressão aterrorizada e ao mesmo tempo vazia que ele mostrara ao ser atacado com toda aquela violência, lembrava-se das lágrimas que havia causado, lembrava de sua voz suplicante. Ficava enjoado ao pensar nisso, ao lembrar da cor e do cheiro do sangue alheio, do som da carne e do osso se partindo. Como poderia superar isso? Heike como todo ariano não era um bom perdedor, detestava falhar principalmente no que dizia respeito a confiança que os outros tinham em cima dele. Errar não era uma opção, principalmente quando não podia voltar atrás ou fazer o que quer que fosse para compensar. Não era próximo de muitas pessoas, mas o valor que dava a estas era maior que tudo. E tinha conseguido machucar todas de uma vez só.

    Respirou fundo, tentando não entrar em pânico a medida que o ar não chegava aos pulmões pelo nervosismo. Teve uma vontade repentina de empurrar o moreno, com repulsa de si mesmo, e correr novamente, estava se deixando levar novamente pelo turbilhão de sentimentos ruins e depreciativos, queria gritar, quebrar alguma coisa, machucar a si mesmo, qualquer coisa para tirar aquilo do peito, desesperado.

    Sentindo o corpo tensionado, fechou os olhos e o apertou com uma força além da necessária. Ao mesmo tempo em que cedia, uma parte de si lutava para não perder a sanidade novamente. Já havia a perdido para o ódio, não queria fazer o mesmo para o medo e para a culpa. Algumas lágrimas voltaram a escorrerem, mas assim que sentiu o selar calmo sobre os lábios, aquele calor gentil e reconfortante da boca de Nero, pareceu se acalmar ligeiramente. Respirando profundamente, abriu os olhos e o fitou de perto, assentindo leve a suas palavras. Apesar de continuar em silêncio, sua expressão mostrava claramente o que sentia, quase como se continuasse pedindo perdão.
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por taurusnero Seg Jul 28, 2014 9:14 pm

    Em silêncio, ao ser apertado daquela forma, Nero precisou controlar-se para não deixar o próprio medo vir à tona. Ainda estava com medo de perder Heike, e descobrira que a morte não era o único fator ao qual deveria temer. O guerreiro poderia fugir de si por livre e espontânea vontade. Aliás, por puro medo, por puro desejo de não encarar de frente o que acontecera no passado... Algo que sequer havia sido culpa sua. Não poderia permitir que ele se sentisse daquela forma, mas, ao mesmo tempo, não sabia como impedir que o ariano o abandonasse em meio àquela mistura de emoções. Sequer conseguiria correr atrás do mesmo se ele se levantasse e fugisse naquele instante. E sentia-se quase incapaz diante daquilo tudo.

    Com um suspiro pesado - reprovando os próprios pensamentos -, e após assistir por longos instantes o olhar lançado a si, o taurino puxou o mais novo para mais perto, movendo-o sobre o próprio colo para que Heike estivesse confortável o suficiente, e sua cabeça repousasse no peito do mais alto. Possessivo, uma das palmas prendeu-se à cintura do companheiro, enquanto a outra, livre, voltou a acariciar-lhe os fios -agora curtos. Dos lábios cheios, um som prolongado e agudo escapou ao que começava a assobiar uma música antiga de sua tribo. Não sabia quando aprendera, mas desde pequeno se via cantarolando por aí, quase como se já tivesse nascido sabendo.

    Aquele som era algo que sempre o ajudara em momentos de tensão, que sempre o tranquilizava, e que desejava que fizesse o mesmo ao outro rapaz. Não aguentaria vê-lo sofrer por muito mais tempo, muito menos em tentativas de lhe pedir um perdão que já havia dado antes mesmo de ser vociferado. Queria que Heike entendesse que a importância dele era muito maior do que achava que era. Que, para Nero, somente a presença dele era o suficiente para que se livrasse de todo e qualquer pensamento ruim. Se tivesse Heike, não se importaria de não ter meia perna, uma perna, metade do corpo ou o que fosse. E queria que ele entendesse. Precisava que ele entendesse.

    Como poderia fazê-lo entender?

    Grunhiu, cortando a canção pela metade, antes que os braços forçassem mais o corpo menor contra o seu, apertando-o com uma força desnecessária, mas que ainda não era o suficiente para machucá-lo. Em sua face, os olhos seguiam fechados, e o queixo repousava sobre a cabeça alheia, levemente, sem por metade da força que parecia torcer sua expressão por completo. Mas aquele era apenas o reflexo do seu conflito interno. Havia algo que talvez ajudasse o ariano a entender o quão especial era para si, porém era um algo que jamais pensara falar a alguém. Sentia-se constrangido, afinal, vivera pensando que não teria chances de ser como alguém normal, e lá estava, sofrendo por algo tão simples, que, no entanto, parecia tão complicado. Riria, se não estivesse tão sério. Heike. Começou, tentando ser o mais direto que podia, por mais que sua voz falhasse quase infantilmente para alguém de seu tamanho e idade. Eu...
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por Rin Damien Ter Jul 29, 2014 12:22 pm

    Havia deixado aquele pequeno recado no quarto em que Nero estava internado esperando que ele e Heike pudessem se ver sem maiores problemas. Sabia que o ariano estava com sérios problemas, mas imaginava que o regente de touro fosse conseguir conversar com ele sem conflitos, ao menos, sem reações físicas exageradas e violentas. O resto não era de sua conta. Mas subestimara o nível emocional de Áries, aparentemente. Ao visitar o quarto naquele dia, achara o lugar vazio; parecia que todos os fios conectados previamente ao outro tinham sido arrancados à força. Acionou o comunicador brevemente para perguntar a um dos médicos de plantão se Nero estava no próprio quarto. A resposta fora negativa.

    Certo. O primeiro passo então era encontra-los. A situação não deveria estar tão ruim, e se conseguisse apenas manda-los para seus respectivos quartos, era uma missão cumprida. Comunicou aos curandeiros livres que começassem uma busca pela nave, enquanto ele próprio andava à procura dos pacientes sumidos. Levou certo tempo, porém conseguiu achar os dois, abraçados em uma cena que deveria ser algo como comovente, e aparentemente intactos, se não fosse por um pequeno detalhe. A nova perna de Nero se encontrava a alguns metros de distância dos dois corpos. Mas que diabos?

    Ativando novamente o comunicador, informou a quem estava na busca que havia os encontrado, e para mandarem alguém com muletas para o local designado. Desligando o aparelho, um sorriso sem emoção alguma surgiu na face do virginiano, que e se dirigiu a eles em um tom perigosamente calmo, que não permitia questionamento. – Heike. Vá para o seu quarto. Se você não for, eu vou saber. Nero, um médico está vindo com muletas, e aí você vai para o seu. Diga para ele trazer a perna também. Vamos ter uma conversa, sim? – E sem mais, se virou, dirigindo-se ao quarto do taurino, enquanto ativava novamente o aparelho de comunicação. Parecia propício chamar certas pessoas para aquela bronca em específico.

    - Harold? Vá para o quarto em que Nero está hospitalizado, agora, se puder. – Hesitou por um segundo, não querendo realmente falar a outra parte, contudo, não era porque tinha desavenças com alguém em particular que deixaria de envolvê-lo em um assunto em que era necessário. - Ah. Contate Zion para ele ir também. Um dos brinquedos dele está quebrado.
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por Heike_Walker Ter Jul 29, 2014 7:41 pm

    Não era como se as palavras de Nero entrassem por um ouvido e saíssem por outro, Heike estava consciente do que ele falava e tentava empurrar o medo para o fundo do peito, tentava acreditar e confiar no que o moreno dizia, tentava ver as coisas de um modo positivo, porém o ceticismo estava sendo mais forte no momento, mesmo que lutasse contra ele. Estava mentalmente exausto depois de tanta tensão, sequer conseguia pensar racionalmente no que fazer e se frustrava por não conseguir voltar ao normal. Talvez fosse questão de paciência, de dar tempo ao tempo, mas paciência era algo impossível do jovem ter, principalmente de uma hora para outra.

    Respirando fundo, o regente fechou o olho que não estava tampado e deixou-se levar pelos toques do maior, sendo ajeitado em seu colo de um jeito que acharia no mínimo constrangedor e irritante se estivesse em seu normal. Mas naquela situação, sequer lembrara de se importar, apenas relaxou visivelmente em seus braços, deixando a cabeça pesar contra o peito largo do regente de touro. Suas mãos, além de o tocarem de um jeito possessivo e mesmo carinhoso, também passavam ao ariano uma sensação de cuidado e proteção, e mesmo que detestasse se mostrar tão vulnerável naquele momento era tudo o que precisava. Apesar de não demonstrar, foi com certa surpresa que escutou o guerreiro começar a assoviar uma melodia tranquila.

    A música era calma e de certa forma lhe trazia um sentimento nostálgico, mas era bela e certamente cumpriu com as expectativas de Nero: não demorou para que o ariano relaxasse totalmente e o apertasse num abraço, encaixando melhor os corpos de um modo mais confortável para ambos. Porém, não demorou também para que o próprio taurino se interrompesse e grunhisse de um jeito estranho para logo depois apertar o ariano com força. Nero..? Perguntou com a voz meio cortada, levantando o rosto para fitá-lo. O olhar que recebeu foi intenso o suficiente para fazer o coração do ariano acelerar, incerto do que estava acontecendo. E antes que ele pudesse continuar, foi interrompido por Rin que apareceu de repente.

    Dando um pulo no colo do outro ao escutar o próprio nome ser chamado daquele jeito cortante, encolheu-se contra o taurino e virou-se para o virginiano com coração batendo numa velocidade absurda, com a expressão presa entre surpresa, vergonha e pasmem, medo. Não medo do próprio Rin, sabia que ele não faria nada nem se quisesse, mas do que foi dito. Ao mesmo tempo em que demorou para relaxar na presença do maior agora afastar-se dele parecia muito cedo, parecia errado, parecia desesperador. Logo o loiro se afastou de ambos no chão e Heike não se impediu de olhar para Nero de um jeito apreensivo e hesitante, apertando as mãos com força em sua roupa.

    Eu não.. Não quero.. Ficar sozinho...

    Admitiu com a voz tão fraca que mal se fez escutar, franzindo o cenho e respirando pesado ao desviar o olhar para as próprias mãos no peito dele, apertando o tecido da blusa cada vez mais. Nos poucos instantes que conseguiu relaxar junto do outro pareceu fácil não pensar em nada, não deixar aquela série de pensamentos depreciativos de culpa e fraqueza o invadirem, então a perspectiva de ficar sozinho naquele quarto do hospital pareceu um pouco difícil. Não queria ficar dependente dele dessa forma, mas no momento precisava dele.
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    [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar Empty Re: [#04] Turno Livre - Ala Hospitalar

    Mensagem por taurusnero Qua Ago 20, 2014 6:08 pm

    Para Nero, fora muito difícil conseguir entender o que sentira diante da interrupção de Rin. Estava sério, muito, e havia juntado um nível de coragem surpreendente para começar a falar, então, medindo por aquilo, estava realmente frustrado por ter sido interrompido justo naquele momento. Porém, ao mesmo tempo, o constrangimento era absurdo, e as palavras do virginiano - que sequer notara se aproximar, tão nervoso estava -, fizeram com que puxasse com força ar aos pulmões, finalmente voltando a respirar... Quando sequer lembrava que havia interrompido o fluxo.

    Piscar fora sua primeira reação, antes que assimilasse o susto que o mais novo tomara diante da voz do virginiano ou a forma com que ele se encolhia contra si. Piscou novamente, e puxou Heike para mais perto, pressionando-o contra o seu corpo, como que em uma garantia de que tudo ficaria bem, para que, só então, seus olhos subissem e focassem o loiro, meio perdido ainda sobre o que foi dito a si. Pelo visto, ele não estava nada contente, ainda que não fosse um fato de todo impressionante. Naquele instante, após retomar a razão a níveis aceitáveis, o moreno lançara um olhar breve por todo o ambiente, e percebeu rapidamente que estava em apuros. Ouviria bastante. E não fez mais que suspirar, afinal, estava começando a ficar acostumado com aquilo.

    No entanto, assim que o loiro se retirara, o taurino perdera novamente a postura natural, para se desesperar levemente ao notar como o outro parecia amedrontado em ficar só. Que Rin o perdoasse, mas não abadonaria Heike naquele estado, mesmo que tivesse que ouvir um dia inteiro de reclamações sobre seu comportamento. Com cuidado, o moreno levou a destra aos fios que cobriam a testa do ariano, retirando-os do caminho para que depositasse um selar breve ali. Está tudo bem, eu não vou te deixar só. Então um sorriso mínimo passou por seus lábios, e o olhar só se desviou do alheio, quando os enfermeiros chegaram ao local. Agradeceu com um menear da cabeça quando recebera as muletas, e os indicara a levar a perna mecânica para o próprio quarto, assim como pedido pelo outro líder.

    Vamos para o seu quarto, hn? Aqui não está exatamente confortável. Pronunciou-se novamente apenas quando os trabalhadores se distanciaram, para então aproveitar o espaço que Heike cedia a si, erguendo-se, e negando qualquer ajuda que lhe era oferecida enquanto se locomovia junto ao outro guerreiro. Estaria desobedecendo as ordens de Rin mesmo? Riria, se não tivesse outras preocupações naquele momento em específico, e, uma delas, era ser responsável o suficiente para comunicar seu atraso. Ligou o comunicador. Rin... Eu sei que você quer conversar comigo e sei que é inevitável, mas eu preciso de mais um pouco de tempo com Heike, e espero que entenda. Assim que eu puder eu irei aí. E esperava que o virginiano entendesse mesmo o que estava implícito em seus dizeres. Afinal, não era como se estivesse fugindo, apenas tinha algo mais importante a tratar antes. Muito mais importante.

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