[#21] Cheirando Gatinhos

        Lavi de alguma forma havia convencido Rin a sair com ele, mesmo o mais velho estando exausto, pelo que se lembrava o loiro estava de plantão a sabe-se lá quantas mil horas, as vezes os donos desse hospital pareciam simplesmente abusar de boa vontade de qualquer médico residente. 

        Contudo sinceramente, nem era sair de verdade, afinal ainda era cedo, bom nem tão cedo, por volta das 18 horas. Lavi sequer pensava em sair, no momento queria ir a casa de Klaus, para ver o amigo e pedir conselhos sobre o novo amiguinho que arrumara. Levar Rin até lá era uma boa ideia, afinal a loja dos pais de Klaus com certeza o agradaria afinal aquilo era um antro de felinos, lojas convencionais tem diversos animais, mas aquele lugar parecia ser 90% populado por gatos. 

         Há alguns dias o estudante de medicina encontrara um filhotinho de cachorro na rua, o pobrezinho estava jogado em um canto qualquer dentro de uma caixa enquanto nevava, ele não conseguiria deixar animal algum daquele jeito então apenas o pegou e colocou dentro de seu casaco e levou para casa, era meio solitário em seu loft as vezes então por que não? Só não havia vindo falar com o amigo antes porque não tivera um tempo muito hábil, mas, obviamente, cuidou do filhote com as coisas básicas que sabia que ele precisaria. 

O dia havia sido tão ridicularmente ocupado e longo para Rin que ele próprio começava a se perguntar como aguentava aquilo. Não era a primeira vez que ficara tanto tempo no hospital, nem havia sido seu pior dia ali, e ainda assim, havia uma quantidade grande demais de pessoas para lidar com e uma bem menor de energéticos para o manter decentemente ativo durante aquele período. Se perguntava de quem era a ideia de mandar os estudantes de medicina passarem praticamente vinte e quatro horas dentro do hospital, com pausas para descanso apenas quando não tinham que checar ou atender pacientes. Sabia que era experiência para seu trabalho futuro, e que ele provavelmente seria ainda pior –mesmo sendo sua escolha -, mas o estado de cansaço do loiro apenas o fazia reclamar mentalmente de toda a situação.

Ao finalmente ver a liberdade diante de si no fim do plantão, no entanto, encontrou-se com Lavi, que viera falando algo sobre sair e animais e mais algumas coisas nas quais o mais velho realmente não prestara atenção. Se fosse apenas sair, Rin teria ignorado seu calouro ou provavelmente dormido internamente enquanto ele falava, mas ao ter animais no suposto lugar... Seu cérebro exausto parou para considerar, e percebeu também que se o moreno realmente queria leva-lo a algum lugar, não teria disposição alguma nem para negar. Deixou que Lavi digirisse até onde quer que fosse enquanto ele próprio tirava um cochilo, que de forma alguma parecera ser longo o suficiente para o quanto precisava dormir.

Tendo chegado no local, parecia ser uma loja que nunca vira antes, voltada a animais e necessidades dos mesmos. Estava cansado demais para pensar em qualquer coisa, mas seu interesse subiu de forma drástica ao finalmente adentrar o estabelecimento. Brinquedos, rações, e uma variedade de objetos que poderiam interessar aos próprios gatos se encontravam espalhados em um ambiente organizado. Mais ao fundo na loja parecia haver outras coisas, e poderia ter jurado ter ouvido alguns barulhos estranhos naquela direção. Será que... Ignorando a presença de Lavi, andou lentamente até onde escutara os barulhos, vendo uma variedade de cachorros, gatos e alguns outros animais em diversas gaiolas e ambientes próprios para eles. Permaneceu estático por um segundo, fazendo uma nota mental para lembrar mentalmente de agradecer ao outro estudante de medicina depois por aquilo, antes de se aproximar do felino mais próximo, seu olhar mudando minimamente do cansaço para algo quase afetivo. Gatos.

O gato a qual Rin se aproximara parecia estar tendo um dia particularmente preguiçoso, e mesmo sendo um ambiente aparentemente feito para interações dos clientes daquela loja com os bichos, o loiro decidiu não incomodá-lo, apenas observando-o por alguns minutos enquanto o felino mexia as patas em um sono aparentemente agitado. Aquilo, no entanto, já era o suficiente para um sorriso mínimo nascer em seus lábios, que aumentava sutilmente conforme o tempo passava, mesmo que o bicho não estivesse fazendo nada demais. Decidindo ver outros, correu o olhar novamente pelo ambiente, notando que alguém sentara em frente à filhotinhos que pareciam descansar em camas feitas para eles. A visão já fora suficiente para o médico se aproximar, mesmo com o estranho ali. Ainda que notasse que era alguém muito maior que a si, não via razão para se intimidar; era alguém vendo filhotes.

Sentou-se ao lado do desconhecido, observando um dos seres mínimos de pelo acinzentado se mover lentamente para fora do conforto de onde estava. Esticando o braço, deixou que ele encontrasse sua mão e a farejasse, logo passando a morder seu dedo com dentes praticamente inexistentes. O loiro olhava aquela pequena ação com um fascínio imenso; se havia uma coisa naquela existência que não poderia negar que fazia qualquer problema em seu dia melhorar, esta eram gatos. Os seus, normalmente. Porém, sentia que poderia ficar para sempre sentado ali, observando e brincando com os pequenos filhotes.

Agradecia mentalmente por, ao menos inicialmente, o estranho não tentar qualquer tipo de conversa. Havia depositado o gato na mão que anteriormente ele tentava morder, e com a livre Rin fazia um carinho leve no pequeno animal, que por sua vez tentava agarrar os dedos que iam em sua direção; os quais o loiro eventualmente desviava apenas por diversão. Continuara nessa pequena brincadeira até ouvir a voz do desconhecido, desviando o olhar para o mesmo e piscando por um momento em uma breve confusão enquanto seu cérebro – mais lento do que era digno – processava o que aquilo significava. Meneou a cabeça em concordância, nem cogitando negar a chance de ajudar a cuidar dos filhotes. – Você trabalha aqui? – Questionou, usando instintivamente o mesmo tom baixo, chegando à única possível conclusão.