Vindo de Rin, era apenas o esperado. Mas aliviou-se internamente quando o mesmo aceitou sua ajuda sem questionar ou hesitar muito. Ambos faziam medicina e, embora esta parte fosse mais responsabilidade de enfermeiras, ainda era necessário que tivessem ética quanto a casos daquele tipo. Então, nada melhor do que um amigo para treinar, certo? Enquanto o outro ousava em retirar as peças de roupa que conseguia, Arthemis aprontou a banheira e temperou a água de forma que ficasse agradável para o tempo e também para o corpo que já havia recebido muito do vento frio lá fora. Mas antes, seria uma boa ideia ele tirar o excesso de terra do corpo no chuveiro. Ao pensar nisso, voltou sua atenção para o loiro, na intenção de informar isso, quando o viu sinalizar que precisaria de ajuda para tirar a camisa.
— Não precisa levantar os braços, mas estique-os um pouco para frente, se puder. — Sorriu, com uma certa educação ao se aproximar o suficiente para levar as mãos à camisa do calouro, levantando-a pela barra e delicadamente passando-a por sua cabeça, puxando o tecido para frente pelos braços esticados, tomando todo o cuidado para que não arrastasse nos machucados das mãos. Jogou a camisa junto ao casaco, depois chamaria alguma empregada para levar e cuidar daquelas roupas. — Ora, o que é isso na sua testa, Rin? — Não havia percebido antes, pelo grau de preocupação que havia ficado, mas o loiro tinha uma marca avermelhada na testa e, quando passou levemente a ponta dos finos dedos, pôde perceber que também havia formado um galo ali. Harold o agrediu quantas vezes e em quantos lugares, afinal? Passava o olhar pelo tronco desnudo, aproveitando a falta das vestimentas para avaliar se ele havia mais algum outro local lesionado. — Está doendo muito? Tem mais algum outro machucado?
Perguntou com uma atenciosidade que, se alguém ouvisse, poderia-se jurar que a garota estava falando com uma criança machucada. Mas aquele tipo de carinho era um hábito dela que carregava a anos, a cada vez que um de seus irmãos aparecia sangrando com três vezes mais machucados do que Rin estava naquele momento. Respirou fundo. Certo, ele precisaria de ajuda com a calça também, até por ela ter um tecido mais resistente e mais áspero do que a camisa. — Com licença. — Repetiu o sorriso. Sabia que ele não estaria desconfortável com aquilo, assim como ela não estava também, mas não custava nada manter o respeito ao invadir o espaço pessoal de seu amigo para tirar as roupas dele.
Sem tanto trabalho, retirou o cinto alheio, guiando-o até o mesmo destino das outras duas peças de roupas. Ao desabotoar a calça, agachou o corpo flexionando os joelhos, no mesmo ritmo em que descia a peça, olhando apenas para os pés de Rin enquanto o fazia. Tirou os sapatos do mesmo sem tanta dificuldade e em seguida as meias. Se perguntava o que havia acontecido para tudo estar tão encharcado. Harold teria jogado ele na piscina, era a única forma, pois não havia chovido naquele dia.
Finalmente, tinha a muda de roupas sujas quase completa. — Se não se importa, vou deixar a última parte para você, enquanto levo isto daqui. — Não teria problemas em tirar a boxer que Rin usava também, mas não seria muito trabalhoso para ele mesmo fazê-lo. Se não tivesse condições, ajudaria sem problema algum, mas peças íntimas eram fáceis de tirar apenas com os polegares se preciso. Recolheu as roupas do chão, vendo o pouco de terra que elas deixavam no piso, fazendo uma nota mental para limpar aquilo depois. — Mas se tiver problemas mesmo assim, eu ajudo também. — Esclareceu com o mesmo tom sereno de voz, antes de virar-se.
Passou do banheiro para o quarto rapidamente. Ao lado de sua cama, havia um botão preso à parede que a albina apertou uma vez, deixando as roupas sujas no criado-mudo. Aquele botão tinha em vários cômodos da mansão e eram utilizados para chamar um empregado por assistência, qualquer que fosse. Qualquer um que viesse, veria a roupa suja embolada no criado-mudo e já saberia o que fazer. Então, Arthemis voltou ao banheiro.
— Pronto, agora você não vai mais precisar esperar muito quando sair. Já pedi para alguém lavar suas roupas. Ah, e vai ser melhor você ir para o chuveiro antes, ou vai encher a banheira de terra e não vai te limpar como deve. — Proferiu, retirando as meias dos pés, que permaneceram mesmo quando ela já tinha tirado os dois sapatos. O piso estava gelado, ainda assim. — Eu vou entrar junto, vai ser melhor para te ajudar. — Anunciou, pensando se seria uma boa opção tirar parte das roupas também. Não iria tomar banho com ele, iria apenas ajuda-lo, mas com certeza se molharia também e esfriar tecido úmido nas costas por muito tempo poderia lhe fazer mal. Além de que, a única peça de roupa que estava realmente suja era seu casaco. Seria desnecessário encharcar todo o resto. Também seria uma forma de não deixa-lo muito constrangido – caso ficasse –, por ser o único desnudo ali. Optou então, por se juntar a ele. Sem mais delongas, retirou a saia e o suéter que vestia, prendendo o cabelo num coque, para evitar que os fios longos atrapalhassem sua mobilidade. Permaneceu com as peças íntimas, já que elas seriam lavadas depois de qualquer forma.
Escolheu qual seria a temperatura mais agradável para que nenhum dos dois congelassem e nem fritassem debaixo do chuveiro, e assim pôde sinalizar para Rin entrar dentro do box pela porta de vidro aberta. Pediu para que o calouro fechasse os olhos, pegando a ducha pendurada na parede e ligando-a, pois seria mais prático lavá-lo por aquele meio e começando por sua cabeça. Passava os dedos da mão desocupada delicadamente junto a água, retirando a terra e até mesmo algumas folhinhas da grama do jardim que estavam ali. Usava o máximo de leveza nas mãos, pois não sabia se ele estava sentindo dores na cabeça que não fosse na testa. As madeixas curtas e loiras eram sempre macias e de fios finos, não teve tanto trabalho para limpá-las. Deixaria para passar qualquer produto na banheira, então, passou para os ombros e as costas. A água levou boa parte da terra que ainda restava no corpo, conforme deslizava pelo rapaz e agora ele parecia limpo o suficiente para entrar na banheira sem ficar no meio de caroços de terra e grama.
— Pode virar pra mim, Rin? Preciso lavar suas mãos. — Assim que ele o fez, Arthemis diminuiu a força da água o suficiente para que não doesse tanto. Gesticulou para que ele esticasse as palmas da mão voltadas para cima. — Sei que isso vai doer, mas aguente, tá bem? Não vou deixar isso infeccionar de jeito nenhum. — Lentamente foi deslizando o líquido morno pelas feridas, a temperatura também ajudaria a limpar. Não seria o suficiente, mas seria muita dor para Rin se ela passasse sabão por cima. Deixaria a água fazer o que poderia e a banheira continha sabonete líquido. As lesões sangravam pouco, mas a epiderme estava praticamente toda atingida. Tinha remédios de sobra ali e imaginava se seria seguro o rapaz voltar pra casa e cuidar das coisas sozinho com as mãos naquele estado, mesmo que depois fosse colocar curativos. Talvez fosse justo dá-lo assistência, como forma de se desculpar também, já que indiretamente, ela era a responsável por aqueles ferimentos.