DIA ANTERIORNota: após as estrelinhas, já é o dia seguinte.Uma visita.
Há tempos não recebia uma visita... Ah, mas não era alguém qualquer! Era um grande amigo. O antigo geminiano, melhor amigo de seu pai Dimitri e grande colega de Nerissa, Tae - alto, forte, moreno e usava
dreadlocks, com algumas tatuagens tribais em seu corpo e faceta séria -, fora visitar o sagitariano num dia que, até então, parecia qualquer. O ruivo caminhou contente até a sala de visitas dentro da Nave Principal, tampouco imaginando o que havia acontecido - tanto com Harold quanto com Heike, e no restante da nave.
O homem se sentou, e Ren também se sentou em seguida, e a princípio jogando conversa fora e tomando um suco. Não via o geminiano há tempos e sentia muita falta dele, ficando bastante feliz ao vê-lo ai.
Tae perguntou da vida de Ren, e o jupiteriano fez o mesmo. Conversaram tranquilamente, até o homem fechar o sorriso aos poucos, segurando o copo quase vazio, de suco. Ele suspirou pesadamente, e Ren sabia que tinha algo errado.
Só não sabia a gravidade da situação.
–
Ren, você se lembra de quando eu te treinei para que um dia pudesse selar energias negras? Faz muito tempo, mas pedi para que Abel repassasse isso pra você. Ele o fez? – O tom de voz era grave; a voz de Tae era rouca e pacata, diferente da voz do ruivo.
–
Sim, mas... Tem uma coisa que me deixou curioso. – Por "milagre", tom de voz de Ren também era calmo. –
Você me ensinou muitas coisas e sou eternamente grato por isso, mas nunca me explicou o motivo. Nunca entendi essa "energia negra", ou sei lá. Abel apenas me disse que eu poderia usar a técnica em meu pupilo.–
Heike, não é?–
Eu te contei o nome dele antes? – Sorriu, curioso.
Tae parou, pensativo. demorou um pouco até responder o rapaz de cabelos alaranjados, colocando o copo - sem mudança no conteúdo - sobre a mesinha a sua frente, que separava Ren dele. Ele sentado num sofá, a mesinha no meio e Ren sentado no sofá a sua frente, ambos naquela sala silenciosa e de temperatura agradável.
–
Abel me contou. – Parecia haver algo mais ali. –
Eu não sei muito a respeito, mas... – Mentia claramente sobre não saber muito. A questão é se Ren entenderia isso. –
Precisa parar esse menino. Há uma energia muito, mas muito ruim em volta dele e notei que a constelação escorpiana não anda muito bem. Você sabe quem pode ter causado isso, não sabe?Eureca.–
Kain...? Mas ele não tem nada a ver com Heike! E mesmo se tivesse... Por que ele iria querer que Heikkun agisse dessa forma? – Ren se levantou, exasperado. –
Eu sei que Kain é um idiota, ok? Mas não teria como esse imbecil tirar mais uma pessoa de mim!O moreno ergueu o olhar para Ren.
–
Então, ainda guarda rancor? Talvez seja isso. – O homem se levantou, e de pé, abaixou a cabeça, olhando para o menor. Maldita diferença de altura. –
Só posso te dizer uma coisa, Renny. Controle-se.–
O-O q-que...? Não é possível que esteja me pedindo isso, Tae... Você sabe mais do que ninguém a dificuldade que tive de superar isso...–
Não é um pedido. Estou te implorando. Apenas... Se controle. – O geminiano deu as costas para Ren e caminhou até os portões, que se abriram quando o sensor detectou a presença de alguém. –
E controle o menino também.–
TAE!Ele já havia ido embora.
Ren levou aquilo como uma reprovação. Cerrou o punho e levou a mão ao peito, e sentiu algo bem estranho vindo do homem. Talvez uma informação não totalmente dita, ou uma preocupação... Não era possível que ele pedisse controle da parte do Ren sem mais nem menos! Como se o ruivo fosse oculpado de Heike se descontrolar ou de que Kain pudesse ter feito algo. E mesmo que ele tivesse feito algo, Abel diria, certo? Afinal, o pisciano não esconderia tanta coisa de seu pupilo mais dedicado e amado. E, como Tae havia dito, será mesmo que ele ainda guardava rancor? Mas... o que esse rancor teria influenciado em sua vida e em seu controle? ele tomava conta de uma constelação! Não deve ser algo tão ruim...
Recebeu as ordens em seu comunicador localizado em sua orelha; ao perceber que a nave se
comportava de forma incomum, vestiu rapidamente seu uniforme, mantendo as luzes acesas para emergência, no caso de
blackout, para que possa ser visto e então dar auxílio a quem precisasse. Ren respirou fundo, já imaginou o que poderia ter acontecido: Heike ultrapassou seu limite e, novamente, chegando ao descontrole, e isso era algo que o sagitariano não via há muito tempo. A única coisa, desse descontrole de Heike, que Ren sabia, é que era algo - obviamente - sem o consentimento do ariano. Mas, para que ele tivesse voltado àquele nível, alguém o provocou.
Guardou suas bestas nas laterais de seus quadris, correndo até a sala de Abel após ouvir o comunicado. Ren sabia como parar o ariano, mas as perguntas que estavam em sua mente eram: ele machucou alguém? E pra que raio de lugar ele foi? A segunda era mais urgente, caso quisesse pará-lo naquele momento. E estava desesperado, de uma forma que nunca esteve antes, se controlando para não se desesperar e pôr tudo a perder. Afinal, se considerava um inútil dentre as habilidades dos novos membros zodiacais, e sabia que nada nem ninguém além do próprio Ren pudesse mudar isso.
Abel chamou o sagitariano no comunicador e pediu para que ele, rapidamente, chamasse Zion. Ren ficou confuso, e pra que ele ia chamar o aquariano em meio à confusão? E outra: pra que Nero avisou sobre o que acontecia? Harold era o líder, não era? E até então, ele não havia dado sinal de vida! E se algo tivesse acontecido com ele? Sentiu o coração acelerar mais por um rápido instante, mas achou melhor não tirar conclusões precipitadas. Até porque poderia ser neurose do próprio Walker.
Entretanto, ouviu o comunicado de Rin, e detalhes do que havia acontecido com Heike.
Ren gelou. Talvez tivesse entendido o propósito de chamar o Zion, por motivos de levar a prótese ao capricorniano. O jupiteriano retornou em seu caminho e correu rapidamente ao local onde o albino estava, e chegou a quase cair durante o trajeto. A porta da sala onde havia a maca possuía uma janela de material transparente e resistente. De lá, conseguiu ver o corpo praticamente destroçado do capricorniano, e o que Ren imaginou que não poderia piorar, acabara de acontecer diante de seus olhos. Colocou as palmas das mãos sobre a porta, que estava fechada, e não conteve o choro.
–
H-Haro...Apoiou a testa na janela, e uma lágrima caíra rapidamente ao chão.
Então era assim...
Primeiro seus pais, perdeu até mesmo um irmão no qual nunca pôde ver seu rosto, perdeu seus melhores amigos e agora, perdeu o homem por quem havia descoberto enormes sentimentos? Quando Ren finalmente rendeu-se àquilo que chamavam de "amor" e abriu seu coração, permitindo-se amar novamente... Perderia todos que amava? Sentiu seu corpo fraquejar, e seus joelhos até mesmo perderam a força por um momento. Jogou-se ao chão, chorando, e a imagem de Harold em sua cabeça.
E se acabasse perdendo Heike também?
Ok, poderia pará-lo com uma flecha, utilizando sua própria energia, mas... E se acabasse o perdendo também? Perderia a criança por quem teve tanto afeto? Heike era praticamente seu filho; e, diferente do que os outros pensavam do ariano, o chamando de aberração, ele era uma dádiva para o sagitariano.
Ren estava emocionalmente abalado.
–
Preciso avisar Zion rapidamente... – Levantou-se devagar, enxugando as lágrimas. Deveria ser mais rápido e esquecer os próprios sentimentos. Afinal, vidas estavam em jogo ali.
E quando ergueu seu rosto, seu olhar estava diferente.
Correu até a nave do ar, e nunca correra tão rápido quanto naquele dia. Ao invés de bater a porta ou chamar civilizadamente o aquariano, o jupiteriano começou a chutar freneticamente porta, mesmo que fosse de aço e tão pesada e resistente, e o fazia com força.
–
Ô CAIPIRA! ABRA ESSA PORTA! HAROLD TÁ QUASE MORTO E EU ESTOU COM PRESSA! OU ENTÃO EU CHUTO ESSA TUA CARA DE... DE AQUARIANO! – Lembrou-se de que existia algo chamado "comunicador", especialmente para os membros zodiacais.
Legal, não? –
Zion, sou eu, Ren. – Ativou o comunicador antes de falar. –
Leve suas melhores próteses até Haro. Creio que ouviu Rin e Nero, não foi? É mais urgente do que parece. Não posso te esperar, então... Confio nas suas habilidades até ontem inúteis pra porcarias de metal. – Por incrível que parecesse, aquilo foi um elogio.
Retirou o arco que estava em suas costas e se afastou da porta. Não precisava carregar flechas, até porque, a única que usaria, retiraria de sua própria constelação.
Procuraria por Heike e daria um basta nesse descontrole. Nem que, para isso, sacrificasse a si mesmo. Contudo, no meio do caminho, havia encontrado seu primeiro obstáculo.
–
Ren... Eu não posso deixar você passar agora.Louis.